Texto escrito e publicado em três partes, em maio e abril de 2021, pela ativista Dr. Em, no site Uncommon Ground Media. Acesse esses e outros artigos originais da autora aqui.

Parte 1: Linguagem
A desumanização e objetificação através da linguagem está sendo usada para justificar a continuidade da subordinação das mulheres aos desejos masculinos.
“Para homens de direita, nós somos propriedade privada.
Para homens de esquerda, nós somos propriedade pública.
Em ambos casos, nós não somos consideradas humanas:
Nós somos coisas.”
Andrea Dworkin, em “Right-Wing Women”
A objetificação das mulheres, a conceitualização de que a fêmea existe para o desejo e uso de outros que não ela mesma, a divisão de seu corpo em partes em vez de entendê-la como uma pessoa completa, tomou um ritmo fervoroso nos últimos anos. Você tem notado o crescente impulsionamento à ideia de mulher como uma vestimenta, mulher como um útero, mulher como um brinquedo sexual, mulher como um item comprável? [A filósofa estadunidense] Sandra Lee Bartky delineou como “a objetificação sexual ocorre toda vez que o corpo da mulher, partes do corpo ou funções sexuais são separados dela enquanto pessoa, reduzidos ao status de meros instrumentos, ou considerados como se fossem capazes de representá-la”. Isso é o que está acontecendo quando termos como “pessoas com vaginas”, “pessoas que engravidam” ou “portadoras de útero” são usados para descrever mulheres para deixar alguns homens felizes.
É mais fácil para os Estados retirar os direitos das mulheres, ou permitir que empresas o façam, quando esses direitos não são baseados no sexo biológico, como nossa opressão, porque termos como “pessoas” e “progenitor” obscurecem a discriminação baseada no sexo e que essas são questões específicas às mulheres. Por exemplo, quando a Polônia baniu o aborto para as mulheres, a Anistia respondeu alegando que isso se tratava de um problema de pessoas, como se isso impactasse homens da mesma maneira.

De maneira similar, quando Honduras baniu o aborto, isso foi noticiado como uma lei que afetava “pessoas grávidas”.

Isso é esconder direta e indiretamente a discriminação com truques de linguagem e encobrir as motivações ideológicas. Isso é obscurecer o fato de que são machos explorando os recursos reprodutivos e corpos das fêmeas.
Reduzir mulheres a suas funções corporais ou partes individuais tem sérias consequências. Repetidos estudos psicológicos demonstraram que mensagens desumanizadoras podem influenciar como as pessoas são tratadas e quais comportamentos de outros são tolerados. Isso é bem sabido e não é novidade. Estudantes de ensino médio no Reino Unido aprendem que a propaganda nazista sobre judeus teve um papel significante em permitir o holocausto. De fato, como David Livingstone Smith argumenta em “Less Than Human”, “durante o holocausto, nazistas se referiam aos judeus como ratos. Hutus envolvidos no genocídio em Ruanda chamavam tutsis de baratas. Proprietários de escravos ao longo da história consideravam os escravizados como animais subhumanos… É importante definir e descrever a desumanização, porque é o que abre portas para crueldade e genocídio.” Em uma variedade de estudos, psicólogos demonstraram como mensagens desumanizadoras influenciam como nós pensamos sobre e subsequentemente tratamos pessoas. Allison Skinner [professora de psicologia] relata como “em um estudo, após pesquisadores sutilmente induzirem os participantes a associarem pessoas negras com macacos, esses participantes se tornaram mais inclinados a tolerar o policiamento agressivo e violento de negros suspeitos de crimes. Outro estudo expôs os participantes à metáforas comparando mulheres com animais. Os participantes subsequentemente demonstraram um pico de hostilidade sexista.” Outro “conjunto de estudos descobriu que homens que apresentam mais associações automáticas entre mulheres e animais relatam maior tendência a assediar sexualmente e estuprar mulheres”. É sobre isso que feministas estão falando quando falamos sobre os perigos da desumanização de mulheres na pornografia, e agora na linguagem mais amplamente. O pornô prepara homens para tolerar a violência e discriminação contra mulheres. Mesmo assim, apesar de ter sido uma reclamação persistente de feministas por séculos, a objetificação e mercantilização das fêmeas tem aumentado com um renovado vigor e vestes progressistas.
Por quê? Por que agora? Nós estamos em um singular contexto econômico e ideológico. A pornografia tem inculcado a visão de mulheres como objetos para o prazer masculino, menos que humanas, e erotizado a opressão das mulheres enquanto ao mesmo tempo o mundo chega a termo com a crise econômica de 2008 em diante e o cenário econômico incerto relacionado a Covid-19. Subsequentemente, há uma pressão para a utilização das mulheres enquanto recurso. Sim, mulheres sempre foram usadas por homens como mão de obra gratuita. Desde o trabalho doméstico, cuidado de crianças, assistência pessoal e cuidado emocional gratuitos, até como secretárias particulares, mas graças aos movimentos de libertação ao longo do último século, agora está profundamente fora de moda para homens enquanto classe sexual e individualmente serem tão abertamente exploradores. Ele, o coletivo “ele” e o individual, precisam manter a mentira, a falsa performance do avanço feminino. As mulheres, no ocidente, apesar dos imensos obstáculos, como as disputas pela guarda dos filhos, ter de criar filhos com uma renda só, e o potencial controle coercitivo, para nomear apenas alguns, ainda assim podem ir embora. Desde que a campanha de Caroline Norton [uma reformadora social inglesa] resultou na “Custody of Infants Act” [Ato sobre a Guarda de Crianças] de 1839, combinado a mais bases para o divórcio sendo concedidas em 1969 e mulheres sendo permitidas a ter contas bancárias próprias sem a assinatura de pai ou marido em 1975 [fatos do avanço jurídico dos direitos das mulheres na Inglaterra], homens tiveram que fazer um esforço maior para persuadir mulheres a ficarem e trabalharem de graça. À medida que as conquistas educacionais e na entrada no mercado de trabalho aumentam em todos os níveis, homens enquanto classe gostariam de nos colocar de volta ao que eles determinaram que é o nosso lugar, mas não podem dizer isso sem retaliação social. Entra então a linguagem progressista e a ofuscação.
Como [o jornalista norte americano] Peter Beinart discerniu, “não importa quão alto uma mulher venha a ascender, ela é em última análise só um corpo cujo valor é determinado por homens”. Os Estados, ainda um sistema político masculino para servir aos interesses dos homens, começaram a lucrar abertamente com a venda de fêmeas.
O próximo ensaio dessa série vai delinear como os governos lucram com a venda de mulheres e meninas na prostituição, pornô e barriga de aluguel.
Parte II: Prostituição, Pornô e Barriga de Aluguel
Prostituição, pornografia e barriga de aluguel: três indústrias lucrativas que dependem da objetificação das mulheres.
Mulheres, tendo sido desumanizadas ao status de Objeto, estão sendo exploradas como um recurso para o lucro masculino. Homens enquanto classe alegam não saberem nomear o que eles vendem, não serem capazes de distinguir o que é vendido do vendedor, mas isso não é sustentado pela realidade. Prostituição, pornô e barriga de aluguel estão prejudicando mulheres e meninas numa escala industrial global.
Prostituição
Como o Business Insider reportou em 2019, “Prostituição é um grande negócio na Europa. Segundo algumas estimativas, o número de prostitutas em todos os 28 Estados membros da União Europeia alcança entre 700.000 até 1,2 milhão. Somente na Alemanha, a indústria tem o valor estimado de 16,3 bilhões de dólares, de acordo com a Agência de Estatísticas Federais da Alemanha”. A venda de majoritariamente corpos de mulheres é reconhecida como acontecendo em escala industrial e o relatório foi publicado na seção de “Lifestyle Executivo”. Assim como traficantes de drogas se deram conta de que traficar e vender mulheres e meninas significava um fluxo de receitas lucrativo, os Estados também o fizeram. Vaginas, ânus, bocas de meninas e mulheres podem ser vendidas repetidamente para homens diferentes, gerando diferentes cobranças. Business Insider recorda como a atual era de prostituição começou por volta do ano 2000, quando a Holanda se tornou um dos primeiros dentre os principais países Europeus a formalizar a prostituição legal e regulá-la como qualquer outra indústria. Alemanha, Grécia e outros seguiram o exemplo, embora a Suíça tenha tido a prostituição totalmente legalizada desde 1942. O “maior bordel” da Europa é a Alemanha. Com o trabalho sexual* sendo tolerado desde os anos 80, o governo o legalizou formalmente em 2002. O comércio desde então explodiu para um negócio de 16,3 bilhões de dólares por ano com cerca de 1 milhão de trabalhadoras e trabalhadores sexuais. Globalmente, a Havocscope estima o rendimento total da venda do acesso sexual à fêmeas como sendo de 186 bilhões de dólares anuais, e alguns governos estão tirando uma parte disso, assim como um cafetão faria.
Em 2011, a BBC relatou como “o governo holandês está buscando novas maneiras de reduzir o déficit orçamentário do país. Está esperando adentrar uma indústria que gera bilhões de euros por ano ao trazer um novo plano que fará prostitutas pagarem impostos como todo mundo. Os governantes tradicionalmente tratam as prostitutas com um pouco mais de clemência na tributação do que outros trabalhadores, entendendo-as como vítimas de cafetões e traficantes de pessoas. Mas a indústria gera cerca de 625 milhões de euros por ano (de £550mi a £800mi). E com milhares de potenciais contribuintes a mais, as autoridades estão agora planejando cobrá-las com o imposto médio de 33% que até agora muitas conseguiram evitar.“
Similarmente, a venda de mulheres e meninas, muitas vezes traficadas de países mais pobres como Romênia e Bulgária, fornece um grande fluxo de receita ao governo alemão. Em 2013, duas jornalistas da TV alemã, Tina Solliman e Sonia Kennebeck, realizaram um documentário chamado “Sexo – Feito na Alemanha”, que foi ao ar no canal alemão ARD. Soliman e Kennebeck concluíram que na Alemanha “mulheres viraram um recurso, para ser usado o mais eficientemente possível”.
Em 2019, foi relatado como “A prostituição é legal na Alemanha, com todas as trabalhadoras do sexo exigidas a ter os números de identificação fiscal necessários e pagar impostos sobre seus ganhos tanto quanto qualquer outro trabalhador. Enquanto a cobrança no contexto de um bordel pode ser mais fácil, há dificuldades em monitorar adequadamente as atividades com renda das que trabalham na rua. Autoridades em Bonn tentaram resolver o problema colocando um contador na zona de prostituição, exigindo que as prostitutas pagassem 6 euros a cada noite pelo direito de exercer seu trabalho na rua.”
Luigi Bernardi da Universidade de Pavia pesquisou a taxação sobre a venda de mulheres nos países europeus. Ele nota as perdas de receita para governos que protegem fêmeas do comércio sexual em seus países. Por exemplo, “a França acabou de se tornar o quarto país da Europa a criminalizar pessoas que pagam por sexo, seguindo o Modelo Nórdico… Portanto a taxação é ausente, e isso significa que o Tesouro perde estimados 15 bilhões de dólares”. A linguagem é notável, a venda dos corpos de mulheres a homens é descrita em termos de mercado e de perdas ou contribuições com a receita do Estado.
Uma área crescente de lucratividade é a de mulheres, meninas e meninos refugiados. Em 2017, a ONU declarou que mais de 75% dos jovens com destino à Europa enfrentam exploração, incluindo trabalho forçado e prostituição. Um relatório de 2017 do grupo voluntário Ginecologia Sem Fronteiras (GSF) que trabalhou no Abrigo de Calais antes da sua demolição declarou que “Dois terços das refugiadas do sexo feminino tinham sido estupradas, espancadas ou prostituídas”. Outra reportagem compartilhou a história de Joy, de 24 anos de idade. Uma lésbica da Nigéria, onde a homossexualidade ainda pode ser punida com morte em algumas regiões, que foi informada sobre “A Dama”, uma mulher que poderia ajudá-la a bucar asilo na Itália. Mas ela foi enganada e acabou como uma escrava sexual, devendo a seus traficantes cerca de 50.000 euros. Depois de três anos, com sua dívida ainda não paga, ela escapou e desembarcou em um centro de detenção em Lille, na França. Marion MacGregor relatou em 2019 sobre a tendência insidiosa que “emergiu em toda a Alemanha: mais e mais mulheres jovens da Nigéria estão sendo traficadas para a prostituição. É um dos modelos de negócios mais lucrativos do crime organizado, mas os líderes raramente são pegos”. As mulheres acabam nos distritos de prostituição legais e o governo cobra impostos sobre a venda dessas vítimas do tráfico. “Nos bairros de prostituição das cidades alemãs, os negócios estão prosperando – assim como o comércio de jovens nigerianas. Todos os anos, mais mulheres jovens do país da África Ocidental são contrabandeadas para a Alemanha e forçadas à prostituição”. Nordic Model Now relata como “Pesquisadores da LSE (London School of Economics and Political Science) fizeram um estudo de 150 países e descobriram que há mais tráfico humano onde a prostituição é legal/descriminalizada. Um estudo para o Parlamento Europeu chegou à mesma conclusão, assim como a teoria econômica”
Em vez de enfrentar esse problema crescente e o comércio de pessoas, os governos e instituições de caridade internacionais estão ocultando o problema ao renomeá-lo. Ser prostituída torna-se “trabalho sexual”, o abuso sexual infantil torna-se “trabalho sexual de menores” e o tráfico humano torna-se “migração para trabalho sexual”. A política de “trabalho sexual” da Anistia Internacional foi parcialmente redigida por uma cafetina e traficante de seres humanos condenada, Alejandra Gil. A Anistia Internacional trabalha arduamente para mudar a percepção pública sobre a venda de mulheres e para pressionar os governos a classificarem a cafetinagem como um trabalho como qualquer outro. Para fazer isso, as vítimas do tráfico são reformuladas como empreendedoras. Isso já está pagando dividendos para o lobby dos cafetões. Por exemplo, em 2019, “A orientação oficial do governo [do Reino Unido] alegou que vítimas de tráfico humano enriquecem por serem exploradas sexualmente no Reino Unido e podem ter asilo negado”. O “documento de política sobre as mulheres traficadas da Nigéria diz que aquelas que se tornam “ricas com a prostituição” desfrutam de “alto status sócio-econômico” e são “frequentemente tidas em alta consideração” quando voltam para casa”. De onde declarações como essa, de que vítimas de tráfico humano lucram em ser traficadas têm vindo? Do lobby dos cafetões e do lobby trans.
Pornô
Outro indicativo da crescente exploração sexual e venda de mulheres e meninas refugiadas é a pornografia. [A mídia jornalística] Zeit relatou em 2018 que “com até 800.000 solicitações de pesquisa mensais, a demanda por vídeos pornográficos estrelados por refugiados está crescendo na Alemanha e no exterior”. Sertan Sanderson também escreveu sobre essa tendência. Sanderson relata como “houve um aumento acentuado na chamada pornografia de refugiados desde 2015, quando a migração para a Europa do Oriente Médio e da África atingiu números recordes. Estúdios de produção inteiros especializados no interesse especial da pornografia de refugiados surgiram em todo o mundo, fornecendo horas de conteúdo”. O racismo é claro nos vídeos e o status supostamente muçulmano das mulheres é fetichizado. “A maioria dos títulos pornográficos de refugiados retrata protagonistas femininas em papéis subjugados, que muitas vezes são feitos para parecer ter origem no Oriente Médio. Em cenas explícitas, muitas vezes são mostradas como dominadas sexualmente por homens brancos. Uma característica principal… é o uso do hijab… mesmo que todas as outras peças de vestuário tenham sido removidas nas cenas representadas”. O racismo torna-se aparente quando as buscas são contextualizadas, pois “de acordo com as estatísticas do Google Trends, o interesse em pornografia de refugiados parece aumentar significativamente em períodos eleitorais em países de língua alemã, especialmente em regiões com forte representação nacionalista ou populista”. Os títulos do Pornhub geralmente incluem o desespero financeiro como uma isca aos telespectadores, como ‘Mulher árabe desesperada mantém seu hijab durante o sexo’, ou uma referência de que estão fugindo do conflito na Síria. É mais uma evidência de que a pornografia é sobre a dominação masculina branca e expressa o ódio pelas mulheres.
A pornografia amplia o lucro da prostituição, pois a penetração dos corpos de mulheres e meninas pode ser filmada, colocada na internet e consumida por ainda mais homens, e podem continuar a ser consumidas mesmo depois de morrerem. Jonathon Van Maren investigou como “muitas estrelas pornô vistas online estão na verdade mortas e enterradas… e seu ‘trabalho’ as matou”. O MindGeek/PornHub se aprofundou em nossas instituições e oferece oportunidades de investimento sobre o abuso sexual de mulheres e meninas. Uma investigação do Financial Times revelou que “em 2011, a empresa recebeu um empréstimo de 362 milhões de dólares, com uma taxa de juros de 20,4%, de 125 investidores “secretos”, que incluíam a JPMorgan Chase, a gigante de private equity Fortress Investment Group e – naturalmente – um faculdade da Ivy League… Universidade de Cornell”. Durante anos, a Mastercard e a Visa lucraram com a compra de vídeos de abuso sexual, até que proibiram o uso de seus cartões no Pornhub em dezembro de 2020 após a reportagem de Nicholas Kristof no New York Times. Kristof analisou em relação ao Pornhub que “o site está infestado de vídeos de estupro. Ele monetiza estupros infantis, pornografia de vingança, vídeos de câmeras espiãs de mulheres tomando banho, conteúdo racista e misógino e imagens de mulheres sendo asfixiadas em sacos plásticos. Uma busca por ‘meninas menores de 18 anos’ (sem espaço) ou ’14 anos’ leva, em cada caso, a mais de 100.000 vídeos. A maioria não é de crianças sendo agredidas, mas muitos são”. A Universidade de Cornell e outros investidores ganham dinheiro com isso. Grandes partes das economias dos países estão amarradas a isso. Nós vimos o caos desencadeado globalmente quando o Lehman Brothers, o gigante banco de investimentos dos Estados Unidos, quebrou em 15 de setembro de 2008.
O abuso sexual de mulheres e crianças é um grande negócio, “o Pornhub atrai 3,5 bilhões de visitantes por mês, arrecada dinheiro com 3 bilhões de impressões de publicidade por dia”. “MindGeek, um grupo registrado em Luxemburgo, atrai mais de 115 milhões de visitantes para seus sites todos os dias”. “Todos os dias, cerca de 15 terabytes de vídeos são carregados nos sites da MindGeek, o equivalente a cerca de metade do conteúdo disponível para assistir na Netflix”. “O Pornhub tem em média mais de 100 bilhões de visualizações de vídeo por ano, de acordo com seu site, totalizando cerca de 12,5 vídeos pornográficos por pessoa na Terra.” Ainda assim, o MindGeek e o Pornhub não recebem nem um pouquinho da supervisão política e do questionamento que Google, Facebook e YouTube recebem. Não vemos Bernard Bergemar [dono da MindGeek] ao lado de Mark Zuckerberg na fila para explicar suas empresas ao Congresso. Se filmes e imagens não tivessem impacto sobre o comportamento humano, por que estima-se que o gasto global com publicidade em 2019 tenha ultrapassado 560 bilhões de dólares? Mindgeek e Pornhub sabem que a publicidade tem impacto, é justamente nisso que eles ganham dinheiro e seus investidores lucram.
Eles estão passando a mensagem, repetidamente e diariamente, de que é para isso que as mulheres existem e é isso que os homens podem fazer com elas. Catharine A. MacKinnon argumentou que “o que a pornografia faz vai além de seu conteúdo: ela erotiza a hierarquia, sexualiza a desigualdade. Faz da dominância e submissão, sexo. A desigualdade é sua dinâmica central”. Esta mensagem, de que metade da população mundial existe para o prazer e conveniência da outra metade, é útil para os governos. Como Valerie M. Hudson argumenta, “é vital lembrar que durante a maior parte da história humana, os líderes e seus súditos masculinos forjaram um contrato social: os homens concordaram em ser governados por outros homens em troca de todos os homens governarem as mulheres”.
Barriga de aluguel
Não satisfeitos com o fato de que o lucro máximo tem sido extraído das mulheres, as gangues criminosas, empresas privadas e Estados estão começando a estudar como lucrar com o aluguel de úteros e sistemas reprodutivos de mulheres para homens e vendendo seus filhos. A Grécia tem a barriga de aluguel legalizada desde 2002, mas os números não apoiam o argumento de que isso é feito por altruísmo e indicam que crianças foram vendidas por toda a Europa. “A Grécia abriga cerca de 60 centros de reprodução assistida, um número considerável, visto que tem uma população de menos de 11 milhões”. A venda de úteros de mulheres e seus filhos é um caminho através do qual a Grécia tentou sair da crise da dívida do governo após o crash de 2008. Em 2014, a barriga de aluguel internacional para cidadãos de fora da UE foi legalmente aberta. Isso potencialmente fornece uma receita lucrativa, já que o “mercado global de barriga de aluguel deve superar US$ 27,5 bilhões até 2025, de acordo com um novo relatório de pesquisa da Global Market Insights, Inc.”. Para competir no mercado de venda da capacidade reprodutiva das mulheres e de seus filhos, a Grécia precisava de um argumento de venda único. Assim, “a Grécia difere de outros países porque a criança pertence legalmente ao casal pagante antes da inseminação, o que nega a necessidade de documentos de adoção. A criança é então registrada oficialmente nos primeiros 10 dias de vida e a mulher alugada desaparece dos registros sem deixar vestígios”. A mãe é apagada, ressaltando a ideia da mulher/mãe como ferramenta para uso dos outros.
Da mesma forma que o tráfico humano aumenta para atender à demanda quando a prostituição é legalizada, o tráfico de bebês aumenta para atender à demanda quando a barriga de aluguel é aprovada. Na África, a colheita e o tráfico de bebês estão se expandindo como um comércio. Edwin Lamptey escreveu no [portal de notícias de Gana] Yen sobre este tópico e como “a existência de fábricas de bebês onde mulheres jovens em idade reprodutiva são engravidadas à força com o objetivo de vender os bebês também é motivo de grande preocupação”. Isso não é perpetrado apenas por gangues criminosas, mas também por “médicos, enfermeiras, agentes de assistência social e outros indivíduos suspeitos de envolvimento no ato ilegal de colheita de bebês e tráfico humano”. Além de serem vendidos para adoção local e internacional, “alguns desses bebês são traficados para prostituição quando mais velhos, abusados por meio de trabalho infantil, usados para fins rituais e, às vezes, têm seus órgãos retirados para venda”. Eles personificam a pessoa como objeto de uso e lucro. Em 2019, a “polícia resgatou 19 meninas grávidas que haviam sido sequestradas e estupradas de propriedades em Lagos apelidadas de “fábricas de bebês”. A maioria das mulheres, com idades compreendidas entre os 15 e os 28 anos, foi raptada e engravidada à força para que os seus bebés pudessem ser posteriormente vendidos”. Peter Murimi, Joel Gunter e Tom Watson relataram para a BBC em 2020 que “Bebês estão sendo roubados por encomenda no Quênia para alimentar um próspero mercado ilegal. A Africa Eye [entidade de jornalismo investigativo no continente africano] se infiltrou nas redes de tráfico vendendo crianças por apenas 300 libras”. Os serviços nacionais de saúde da Inglaterra, como os hospitais da Universidade de Brighton e Sussex, que se referem a uma “pessoa grávida”, e a Anistia Internacional, que assinou uma carta dizendo que se opõe “inequivocamente às declarações de organizações recém-criadas que buscam defender a biologia”, nos fariam acreditar que esse problema, gravidez forçada e roubo de bebês, afeta igualmente homens e mulheres e não é um problema sexuado. Que isso acontece com “pessoas grávidas” e “pessoas que passam por trabalho de parto”.
Conclusão
Devemos desmantelar a legislação que objetifica mulheres e meninas. Seja se opondo à descriminalização da prostituição, trabalhando para enquadrar a pornografia como uma crise de saúde pública, ou se opondo à barriga de aluguel, temos que reafirmar a plena humanidade da mulher a cada passo. As mulheres do Nordic Model Now colocaram isso de forma sucinta quando apontaram que “nós regulamentamos apenas porque concordamos, na essência, com o que uma prática significa. Por exemplo, a escravidão existe e persiste, apesar de sua abolição e proibição. No entanto, ninguém pensa em regulá-la e considerá-la como inevitável”. Devemos continuar a desafiar a linguagem da desumanização e da objetificação toda vez que a vemos, toda “pessoa grávida” ou “portadora de colo do útero”. Como Andrea Dworkin articulou, “É verdade, e muito direto ao ponto, que as mulheres são objetos, mercadorias, algumas consideradas mais caras do que outras – mas é apenas afirmando sua humanidade todas as vezes, em todas as situações, que alguém se torna alguém, o oposto de algo”.
Parte III: Negacionismo do Sexo
O negacionismo do sexo – representado pela ideologia do transgenerismo – é o mais novo ângulo na tentativa de objetificar as mulheres, apagando a noção de corpo feminino.
O transgenerismo é tanto o produto da objetificação da mulher quanto necessário para tal. É um cenário “da galinha e do ovo” porque, para tratar mulheres e meninas tão terrivelmente, para vendê-las, para infligir tanto sofrimento e miséria, é preciso primeiro desumaniza-las. O transgenerismo surgiu porque as mulheres foram desumanizadas ou surgiu para tornar a negação da humanidade das fêmeas aceitável e popular? O sistema de supremacia masculina sob o qual vivemos relegou as mulheres à segunda classe e muitas vezes a menos que humanas. Primeiro por meio de religiões de vários nomes e depois por meio de uma ciência sexista. À medida que as mulheres desafiam cada uma com sucesso, novas justificativas vão sendo encontradas. Transgenerismo/transexualismo, negacionismo do sexo, é o cavalo de tróia “liberal” para degradar e rebaixar as mulheres, despojando-as de uma vida interior e reduzindo-as a uma mistura e combinação de pedaços à venda e para o prazer masculino. O transgenerismo/transexualismo defende que a opressão da mulher é natural e todas nós apenas a queremos, que o que era entendido como discriminação sexual na verdade acontece por causa do que estamos vestindo, que nós nos identificamos com isso.
O transgenerismo e o negacionismo do sexo desmantelam a legislação destinada a proteger as mulheres da exploração masculina, neutralizando-as e tornando-as tão amplas que se tornam inúteis. Quando, por exemplo, a discriminação de maternidade inclui homens, as empresas têm um comparador diferente. Espaços seguros para mulheres e meninas onde sabemos que correm um risco ainda maior de abuso sexual por homens, como banheiros, vestiários e acomodações para dormir, são abertos para homens se as mulheres são uma identidade que se pode declarar em vez de uma realidade física. As mulheres correm risco com os homens por causa de seu sexo, não por causa de seus sentimentos. É por isso que “uma mulher relata um estupro a cada 15 minutos na Índia” e as mulheres na Índia “reportaram quase 34.000 estupros em 2018”. Por que a Interpol “estimou que uma mulher nascida na África do Sul tem mais chance de ser estuprada do que aprender a ler”. Por que na Inglaterra e no País de Gales, de acordo com estatísticas de 2017, aproximadamente 85.000 mulheres de 16 a 59 anos sofreram estupro, tentativa de estupro ou agressão sexual por penetração anualmente. Por que foi estimado que nos Estado Unidos, em 2019, 406.970 mulheres foram estupradas ou agredidas sexualmente. É por isso que a forma como um homem afirma se sentir em relação aos estereótipos de papéis sexuais não deve remover as proteções das mulheres contra a violência masculina. A violência masculina global e a discriminação sexual contra as mulheres, da saúde ao emprego, do estupro ao assassinato, é o motivo pelo qual precisamos de dados desagregados por sexo, não por fetiche.
O problema de homens heterossexuais que se identificam como trans é a misoginia, não a biologia. Uma visão de mundo encharcada de pornografia, não uma incompatibilidade entre mente e corpo. A pornografia ensina uma lição particular sobre homens e mulheres: as mulheres são objetos passivos a serem abusados e os homens são ativos, tendo prazer sexual em ferir e rebaixar as mulheres. Dworkin argumentou que “ser transformada em um objeto é um evento real; e o objeto pornográfico é um tipo particular de objeto. É um alvo… Este objeto o quer. Ela é o único objeto com uma vontade que diz, me machuque. Um carro não diz, bata-me. Mas ela, essa coisa não-humana, diz, me machuque – e quanto mais você me machucar, mais eu vou gostar”. A pornografia é entediantemente monótona: as mulheres e meninas são reduzidas a orifícios – vagina, ânus, boca – que ou querem ser penetradas e machucadas porque gostam, ou não querem, até que sejam, e aí gostam . É assim que os homens que se identificam como trans definem as mulheres. A. Long Chu [pessoa do sexo masculino transidentificada] descreve como homens transidentificados na pornografia, quando “sendo” mulheres, “devem abrir seus buracos em rendição de adoração” ao pênis. É isso que designa o feminino segundo pessoas do sexo masculino como Long Chu, a essência feminina de que tanto ouvimos falar. Chu não é uma voz solitária. O site SissyGirlSanctuary lista “Five Sissy Girl Essentials” [Cinco Fatores Essenciais das SissyGirls] e o número um descreve como uma garota é uma “prostituta, vagabunda, cadela que bebe porra… Ela gosta de ser dominada, usada como um recipiente para o prazer e fodida até que sua bunda esteja aberta e molhada. Ela é submissa”. A ligação entre a transidentificação de homens heterossexuais adultos e o vício em pornografia está se tornando cada vez mais aparente. A ideologia da mulher como Objeto combinada com financiamento é o motivo pelo qual há um cruzamento constante entre aqueles que apoiam o transgenerismo/transexualismo e aqueles que defendem a venda de mulheres e meninas aos homens para seu uso sexual ou reprodutivo. Trans está propagando a ideia de que ser usada sexualmente por homens, ser “uma cadela que bebe porra”, é a verdadeira natureza da mulher.
O transgenerismo está promovendo o mantra “trabalho sexual é trabalho” e a descriminalização da venda de pessoas para penetração. Foi argumentado na revista Slate em 2018 que “Descriminalizar a prostituição é fundamental para os direitos dos transgêneros”. Erin Fitzgerald, escrevendo para Red Umbrella (um grupo de lobby de cafetões), relatou que um “novo relatório sobre experiências transgênero no trabalho sexual recomenda a descriminalização”. A Transgender Europe, que se descreve como “uma voz legítima para a comunidade trans na Europa e na Ásia Central com 157 organizações membros em 47 países diferentes” e é financiada pela Comissão Europeia, Conselho da Europa, Governo dos Países Baixos e o a Open Society Foundation produziu um documento político defendendo a descriminalização da prostituição. A ACLU (União Americana pelas Liberdades Civis), aquele bastião da misoginia que argumentava que a pornografia de vingança era um direito fundamental do homem, afirma que a descriminalização da prostituição é necessária para “promover a igualdade na comunidade LGBTQ, especialmente para mulheres trans negras, que muitas vezes são assediadas, independentemente de serem ou não profissionais do sexo”. LaLa B Holston-Zannell, gerente de campanha de Justiça Trans na ACLU, insiste que “Trabalho sexual é um trabalho real e é hora de tratá-lo dessa maneira” Um dos argumentos de Holston-Zannell contra a legislação antitráfico é que “a aprovação de leis anti-trabalho sexual como SESTA/FOSTA prejudica a comunidade diminuindo dramaticamente a renda, o que marginaliza ainda mais os membros da comunidade trans, pessoas negras ou aqueles com baixos rendimentos para começar”. Paris Lees, ativista trans, escreve muitos artigos promovendo a prostituição dos pobres, inclusive um em 2016 na Vice alegando que a única maneira de tornar a compra de outras pessoas mais segura era legalizá-la. Vemos ativistas de partidos políticos LGBT defendendo a descriminalização da prostituição dentro de seus partidos. Por exemplo, o homem identificado como trans Sarah Noble apresentou e ajudou a aprovar a moção para a descriminalização da cafetinagem e da prostituição dentro dos Liberais Democratas do Reino Unido. Da mesma forma, a descriminalização da prostituição, cafetinagem e compra de pessoas foi impulsionada pelo grupo LGBT+ no Partido Trabalhista do Reino Unido. O Decrim Now [Campanha pelos Direitos de Trabalhadores do Sexo no Reino Unido] comemorou como “Na luta pelo Partido Trabalhista para apoiar a descriminalização total do trabalho sexual, agora podemos marcar uma grande conquista – o LGBT+ Labour, o afiliado LGBTQ oficial do partido, aprovou uma moção em apoio à descriminalização”. O lobby pró-cafetão está usando o “T” para forçar o time de LGB’s. Isso é destacado com a nova tentativa de incluir a prostituição como uma sexualidade na bandeira do Orgulho.
Estupro e penetração não são a única maneira de explorar o corpo de uma mulher. Usar os óvulos de uma mulher e depois usar o corpo de uma mulher para gestar e dar à luz uma criança, sujeitando-a a danos físicos, potencialmente fatais, e sofrimento emocional, agora está sendo enquadrado como um direito LGBT. As empresas surgiram para atender a esse novo direito percebido. A Pride Surrogacy, que usa a bandeira do Orgulho como marca e que é especificamente voltada para este novo mercado emergente afirma que “Nós entendemos que você experimentou cuidados mal facilitados quando se trata de planejar sua família… Defenderemos que você tenha a garantia de que seus prestadores de cuidados entendam a diferença entre a contribuição biológica que você está dando para se tornar progenitor e sua experiência de gênero”. A seção de Planejamento Familiar explica que “Antes ou nos estágios iniciais da transição, muitos indivíduos transexuais optam por tornar a futura parentalidade uma prioridade. Uma mulher trans pode congelar o esperma antes da transição; um homem trans pode querer preservar seus próprios óvulos. Podemos ajudar a facilitar esse processo para que você possa ter um filho biológico no futuro. Para pais trans que não preservaram sua fertilidade, facilitamos a doação de óvulos”. Há um pequeno reconhecimento aqui de que o tratamento transgênero implica em esterilização. A seção Your Body Your Choice argumenta que “Só porque você nasceu com a anatomia para tornar a gravidez possível, não significa que você precisa sair de sua experiência como pessoa para se tornar progenitor. A barriga de aluguel torna a parentalidade possível tanto para homens trans quanto para mulheres trans”. São apenas mulheres pobres que precisam experimentar o risco e o trabalho físico [como barriga de aluguel]. A terceirização de funções biológicas é apresentada como um direito de luxo. O discurso de vendas termina com a afirmação de que “Sabemos que você tem muitos pontos fortes que o tornarão um progenitor ainda melhor em áreas como aceitação, autenticidade e coragem”. Filhos de transicionados contestariam isso. Outra empresa, Brilliant Beginnings, também enquadra o uso do corpo de uma mulher e a fertilidade como um direito LGBT. Eles afirmam ter “defendido a inclusão LGBT+ por muitos anos e apoiam homens trans, mulheres trans e pessoas não binárias construindo famílias por meio de barriga de aluguel. Progenitores trans que precisam da ajuda de barriga de aluguel incluem mulheres trans (atribuídas ao sexo masculino no nascimento) que não têm útero e homens trans (atribuídos ao sexo feminino no nascimento) para os quais, mesmo que tenham útero, engravidar não é possível. ou contra-intuitivo”. A mãe foi reduzida a um útero e o vínculo biológico com a criança ao de carregá-la. O Center for Surrogate Parenting, uma empresa Ovation® Fertility, fala sobre “criar famílias” e “realizar sonhos” em vez de comprar mulheres e explorar suas capacidades reprodutivas. Afirma que “nossa agência de barriga de aluguel está feliz em apoiar a barriga de aluguel para pais transgêneros… e tem a honra de desempenhar um papel na realização de seus sonhos de parentalidade”. O impacto sobre a mulher não é mencionado, que tal falar sobre os sonhos dela?
Há artigos recentes em jornais e na televisão promovendo o aluguel do útero e a exploração das capacidades reprodutivas das mulheres mais pobres. Em julho de 2020, o Canal 4 lançou ‘Our Baby: A Modern Miracle’, no qual o público conhece a história de dois indivíduos transidentificados usando uma mulher para gestar e dar à luz um bebê. A ética disso não é questionada e a ideia de que explorar mulheres é um “milagre moderno” é claramente falsa. A mesma “análise” aplicada ao comércio sexual de corpos femininos é aplicada por Jake Graf [que estrela o documentário] à barriga de aluguel: é o estigma que causa danos à mulher, não o uso e a venda de seu corpo e órgãos. Graf, que está tentando ser diretor e ator, afirma que fez o filme sobre eles porque “ainda há muito estigma em torno do processo de barriga de aluguel”. Apesar de nenhuma análise ética ou considerações sobre os direitos das mulheres, “o programa também visa educar, não apenas sobre o que significa ser transgênero na Grã-Bretanha moderna, mas também sobre o que significa ter um bebê por meio de barriga de aluguel”. Frequentemente, quando algo colide com os direitos das mulheres, como o reforço da objetificação cultural da mulher, as mulheres são informadas de que precisam ser educadas. Educadas até aceitarem a venda e uso de suas irmãs.
Hannah, um homem transidentificado casado com Jake, uma mulher transidentificada, se compara a mulheres que são inférteis. Hannah argumentou que “a sociedade vê carregar e dar à luz uma criança como uma das partes mais intrínsecas da feminilidade e, portanto, ser incapaz de fazer isso pode parecer que sua própria identidade está ameaçada. Como uma mulher trans [homem transidentificado], sinto isso muito profundamente, pois já sou frequentemente confrontada por indivíduos que querem invalidar minha identidade, mas a verdade é que há uma infinidade de razões para as mulheres não serem capazes de carregar seus próprios filhos que sofrem a mesma vergonha e invalidação pelas expectativas da sociedade”. Eles estão planejando ter um segundo filho, sobre o que estas são as palavras que Hannah usou: “Sempre dissemos que queríamos obter um irmãozinho para Millie e é algo que vamos tentar quando pudermos, pelas regras de isolamento [devido à pandemia por COVID-19]” A mulher que carregou e deu à luz a criança é descrita como uma ‘anfitriã’: “Depois de cinco anos juntos, o casal decidiu encontrar uma barriga de aluguel para hospedar o embrião”. Essa é a linguagem desumanizadora da indústria de barriga de aluguel.
Conclusão
Trans é o meio perfeito para atrair mulheres a indústrias exploratórias como o comércio sexual e barriga de aluguel, porque qualquer crítica pode ser vestida de ‘transfobia’ e o crítico silenciado. De fato, as acusações de transfobia são usadas como uma forma de boicotar críticas feministas à pornografia, ao comércio sexual e à barriga de aluguel. Em 2015, uma carta aberta de acadêmicos chamando a atenção para a censura de feministas e daqueles que criticam a indústria do sexo e a ideologia transgênero foi publicada pelo Guardian. Em 2018, os alunos de Bristol votaram para banir do campus manifestantes do sexo feminino que expressaram opiniões críticas ao transgenerismo e à indústria do sexo. O transgenerismo é o movimento ideal pelos direitos dos homens porque, embora a opressão das mulheres seja baseada no sexo, ele reformula a discussão do sexo como algo excludente e ódio. Não se pode contestar a discriminação se não for permitido falar sobre ela. O negacionismo do sexo do movimento transgênero nega a realidade em que as mulheres vivem e nega a realidade da violência masculina.
*Usamos aqui a expressão trabalho sexual sem aspas, pois assim ela está no texto original, dado o fato de que essa expressão está sendo tomada como legítima nas legislações que estão regulamentando a prostituição. No entanto, utilizar o termo “trabalho sexual” é um dos tantos artifícios linguísticos que buscam naturalizar a opressão contra o sexo feminino.
Referências Bibliográficas
- S. Lee Bartky, Femininity and Domination: Studies in the Phenomenology of Oppression (Routledge, London, 1990), p.26
- Dr Em, ‘The Rainbow Reich: Transgender Ideology and Totalitarianism, Part I’, Uncommon Ground Media (10 August 2019), https://uncommongroundmedia.com/the-rainbow-reich-transgender-ideology-and-totalitarianism-part-i/
- L. Bernardi, ‘Sex Working and Taxation in European Countries’, Siep, No. 737 (Giugno, 2018), p.7
- A. Dworkin, Woman Hating (Plume, New York, 1974), p.83
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